Quando se fala em atendimento de urgência na capital mineira, uma das principais referências é o Hospital João XXIII – do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência (CHU) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).
A unidade atuou com excelência em casos marcantes, que envolveram diversas vítimas, como rompimentos de barragens e incêndios.
A agilidade do atendimento, que salvou muitas vidas, foi garantida pelo acionamento do Plano de Atendimento a Múltiplas Vítimas (Pamv), que passará por nova atualização nos próximos meses.
“Mesmo sem publicações formalizadas, o Pamv é constantemente atualizado para melhorar os atendimentos. Há reuniões entre o comitê de crise e as pessoas responsáveis pelos atendimentos para analisar passo a passo a atuação das equipes e detectar o que é passível de ser modificado”, explica a cirurgiã do trauma e gerente médica de urgência e emergência do CHU, Daniela Rocha Fóscolo.
Prevista para os próximos meses, a próxima atualização contará com mudanças organizacionais que facilitarão a divisão das equipes e a estrutura comunicacional dos procedimentos, visando o contínuo desenvolvimento do Pamv para acolher os pacientes que mais necessitam de cuidados nas horas mais decisivas para assegurá-los.
O Pamv
O Plano de Atendimento a Múltiplas Vítimas (Pamv) é uma ação de contingência acionada em unidades de urgência da Fundação Hospital do Estado de Minas Gerais (Fhemig).
É fundamental para garantir a qualidade no atendimento, preservar vidas, reduzir o sofrimento do maior número possível de vítimas atendidas e retomar a normalidade no funcionamento e assistência aos demais pacientes do hospital, o mais rapidamente possível.
O Pamv já mobilizou o HJXXIII em tragédias como os rompimentos das barragens de Brumadinho e Mariana, o desabamento de um viaduto em Belo Horizonte, os incêndios na Santa Casa e no presídio Inspetor José Drummond em Ribeirão das Neves, entre outras tragédias.
Ao longo de todos esses casos com inúmeros pacientes que necessitavam de atendimento imediato, o plano também passou por várias atualizações que possibilitaram a manutenção do seu propósito: gerir recursos em contextos de crise para garantir a assistência ao máximo possível de pacientes.
“O aumento súbito de pacientes acaba excedendo a capacidade física e técnica do hospital de atender dentro da rotina de movimentação habitual do HJXXIII, com leitos suficientes”, conta Daniela.
Pensando nisso, o Pamv foi criado para acionar uma série de procedimentos que preparam o hospital para receber um número elevado de vítimas decorrentes de catástrofes, sejam por causas naturais ou provocadas por ação humana.
Como funciona
Conforme a médica relata, “o Pamv é acionado assim que as primeiras informações sobre o evento chegam, seja pelo Corpo de Bombeiros, Polícia Civil ou qualquer outro órgão responsável pelos primeiros socorros”.
A partir daí, é identificado o contexto necessário para acionar o plano, levando em conta a quantidade de pacientes e a gravidade dos quadros.
Quando o acidente é comunicado, as unidades do CHU podem adotar medidas ordenadas com os responsáveis pelos primeiros socorros, para receber o maior número possível de feridos, como otimização dos leitos, suspensão das trocas de plantão e um direcionamento de recursos para os casos mais graves.
“Inicialmente, a gente faz um remanejamento de pacientes do pronto-socorro do HJXXIII. Dependendo do número, fazemos um posicionamento da internação das vítimas para outras unidades da Fhemig. Por exemplo, se estamos atendendo crianças, as transferimos para o Hospital João Paulo II. No caso de pacientes crônicos, para o Hospital Maria Amélia Lins (HMAL). Tudo para abrir espaço para a capacidade física e técnica do CHU”, explica Daniela.
Ações imediatas
O plano prevê outras diversas ações em curto prazo, como, por exemplo, a mobilização da equipe de Hotelaria e da Manutenção (controle e gerenciamento de acessos, transporte de equipamentos etc.); alerta à Agência Transfusional e à Hemominas; suspensão de exames de imagem e cirurgias para liberar esses procedimentos para as vítimas; comunicar aos serviços relevantes de apoio à assistência, como Farmácia, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e a Central de Material Esterilizado (CME); e gerenciar o atendimento à imprensa.
O trabalho de mobilização ainda conta com o apoio dos responsáveis pelos primeiros socorros, como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil, que dispõem de um heliponto no HJXXIII para transportar as vítimas resgatadas até o hospital.
Sempre em melhoria
Demais hospitais em cidades espalhadas pelo mundo, que sofrem com contextos de guerra e desastres naturais, também possuem esses planos.
Em Belo Horizonte, os primeiros esboços foram implementados no começo da década passada.
Desde então, o Pamv recebe novas atualizações, a partir de avaliações que visam corrigir medidas ineficazes utilizadas nas situações em que ele precisou ser acionado.