“Oriará” leva à Itabira obras das culturas indígenas e afro-brasileiras

Mostra do Memorial Vale reúne obras contemporâneas em carreta adaptada e propõe reflexões sobre ancestralidade, cotidiano e futuros possíveis através da arte e da educação.

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A exposição itinerante “Oriará – Arte e Educação em Movimento”, realizada pelo Memorial Minas Gerais Vale, chega ao Médio Piracicaba e terá sua próxima parada na cidade de Itabira. Com obras de artistas negros e indígenas, representantes de diversas regiões de Minas, a mostra será inaugurada na cidade na quinta-feira, 24 de abril, na Praça do Campestre, propondo reflexões sobre temas como oralidade, território, linguagem, tecnologias e bem viver. Em uma carreta de 15 metros de comprimento, especialmente adaptada para o transporte e a exibição das obras, Oriará – que integra o projeto Memorial Vale Itinerante – está levando arte contemporânea e reflexões culturais a 10 cidades mineiras Além da exposição, Itabira receberá diversas atividades culturais e educativas durante o período que a mostra permanecerá na cidade. As visitas podem ser feitas até 04 de maio, de terça a sexta-feira, das 8h às 16h, e aos sábados e domingos, das 10h às 18h.

Com curadoria do Programa Educativo do Memorial Vale, a mostra utiliza a arte como ferramenta de diálogo e encontro, buscando aproximar o público de perspectivas importantes sobre a história coletiva e das múltiplas heranças culturais indígenas e afro-brasileiras em Minas Gerais a partir de três eixos: (Re)existências, Cotidianos e Futuros. Além da Itabira, “Oriará” já passou por Belo Horizonte, Congonhas, Jaíba e Curvelo. As cidades de São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais, Brumadinho e Nova Lima também receberão a exposição.

“O Memorial Vale acumula em sua trajetória muitas experiências e práticas que privilegiam as tecnologias e as histórias dos povos originários e afro-brasileiros no território mineiro, como a exposição itinerante Africanidades e Mineiridades, ações com aldeia indígena Katurãma dos povos Pataxó e Pataxó Hã hã Hãe, a instalação educativa Sementes da Diáspora, dentre outras. A exposição Oriará oferece uma oportunidade única de conhecer a produção artística contemporânea mineira e aprofundar o conhecimento sobre as culturas indígenas e afro-brasileiras”, explica Wagner Tameirão, gestor do Memorial Vale.

“Ori” é uma palavra que vem do Yorubá, cujo significado literal é cabeça. É raiz da palavra Orixá, que designa divindades africanas cultuadas nos territórios brasileiros. Pode-se considerar que “Ori” se refere a um orixá que vive dentro das nossas cabeças, manifestando-se como uma faísca de vida que nos habita. “Ará”, conforme o dicionário Tupi-Guarani, tem alguns significados: dia, sol, nascer, surgir, todo ser vivente, tempo. “Oriará” abre caminhos para a transmissão de conhecimentos e compartilhamento de ideias, volta-se aos modos de vida e à própria presença dos povos indígenas e afro centrados.

Para traduzir o conceito da exposição Oriará, a curadoria estabeleceu três eixos fundamentais: Cotidianos, com reflexões sobre o modo de viver e meio em que se vive; (Re)Existências, com estratégias para viver e existir, e Futuros, com elaborações sobre um futuro abundante construído a partir da ancestralidade. Tais eixos representam distintos pontos de partida para as discussões e os diálogos propostos, relativos à força e à importância das presenças indígenas e afro-brasileiras na sociedade.

Obras e artistas

A exposição “Oriará” apresenta um conjunto diversificado de obras que exploram diferentes linguagens e abordagens, conectando o público com as ricas heranças culturais presentes em Minas Gerais. Edgar Kanaykõ Xakriabá, indígena Xacriabá e mestre em Antropologia, utiliza a fotografia como ferramenta de expressão, compartilhando momentos de cuidado, jogos e cultos de seu povo. A obra “Hemba” (fotografia sobre tecido) tensiona preconceitos e visões enrijecidas sobre os povos indígenas, revelando a importância de seus territórios.
Os Tikmũ’ũn, da Aldeia Escola Floresta Maxakali no Vale do Mucuri, apresentam a obra imersiva “O Que Tem na Roça” (animação digital, desenhos em caneta hidrocor e lápis de cor sobre papel). A obra retrata a diversidade de plantas cultivadas na aldeia e denuncia a destruição da mata, preservando saberes e memórias ancestrais.

Froiid, artista multidisciplinar, aborda o cotidiano popular a partir dos jogos. A obra “Os Petelecos” são jogos de tabuleiro feitos com madeira e pregos, que, na obra do artista, assumem vários formatos. Por meio da arte de jogar, o artista traz ao público um pouco da cultura periférica, de ruas e becos que dialoga fortemente com as heranças afro-indígenas de nosso país a partir dos ditos populares e regras de ser e pertencer a uma comunidade.
O artista visual Marcel Dyogo apresenta “Já Quase Esqueci Seu Nome” (caixas de papelão, papel manteiga e iluminação), uma obra sensível que questiona o apagamento de informações sobre as comunidades indígenas em Minas Gerais. As caixas reunidas formam conjuntos com nomes das 14 comunidades indígenas existentes no Estado.
Dayane Tropicaos, artista visual de Contagem, discute questões de gênero, raça e classe em suas obras. A instalação “Abre Caminho” (uniformes, serigrafia e vídeo) questiona os lugares impostos a populações subalternizadas na sociedade brasileira. A obra é composta por 10 uniformes de trabalho que referem-se a diversas ocupações profissionais que são vistas na sociedade como desvalorizadas.

Jorge dos Anjos, com formação na Fundação de Arte de Ouro Preto, transita entre desenho, pintura, escultura e design. “Obra” (pintura sobre lona de caminhão) combina símbolos geométricos e escritas ancestrais, conectando passado e presente. Jorge intersecciona temporalidades que abarcam a genialidade e o requinte técnico desenvolvido pelos povos negros, incluindo a rede de comunicação estabelecida em diáspora, quando suas identidades se ressignificaram no Brasil.

Finalmente, o “Varal dos Saberes” é uma obra interativa que convida o público a refletir sobre os eixos curatoriais da exposição através de perguntas, imagens e um mapa digital com informações sobre a ocupação territorial de Minas Gerais por povos indígenas e comunidades quilombolas. Nesta obra os eixos curatoriais se manifestam a partir de seis perguntas, em que a curadoria oferece um grupo de palavras e imagens de celebrações, alimentos e experiências relacionadas aos povos indígenas e quilombolas.

Itabira recebe programação especial com oficinas, espetáculos e ações educativas durante a exposição “Oriará”

A cidade de Itabira também será palco de uma intensa programação cultural e educativa paralela à exposição “Oriará – Arte e Educação em Movimento”. Toda a programação é gratuita, aberta ao público e parte das atividades contam com acessibilidade em Libras,
Antes mesmo da abertura oficial, as atividades começam com o Encontro com Professores, no dia 14 de abril, uma formação voltada para educadores da rede pública e privada. O objetivo é criar pontes entre a exposição e o cotidiano escolar, estimulando a troca de experiências e a utilização de práticas educativas que dialoguem com os eixos curatoriais da mostra: Cotidianos, (Re)existências e Futuros. A formação ocorre em diferentes datas e locais da cidade, como a UNA e o Colégio Didi Andrade, até o dia 25 de abril.

Além da exposição, a Praça do Campestre receberá oficinas, visitas mediadas e apresentações artísticas entre os dias 26 de abril e 4 de maio. Entre os destaques estão as Visitas Brincantes, voltadas para o público infantil e suas famílias, que transformam a experiência da visita em uma divertida viagem pelas culturas negras e indígenas. As sessões acontecem nos dias 26, 27 de abril e 3, 4 de maio, sempre às 10h, com duração de uma hora e acessibilidade em Libras.

Também voltada para o público familiar, a Oficina de Máscaras Afrofuturistas, inspirada na obra de Jorge dos Anjos, convida os participantes a explorar elementos do afrofuturismo na arte por meio da criação de máscaras. A oficina acontece nos dias 26, 27 de abril e 3 de maio, às 14h, com duração de uma hora e acessibilidade em Libras.

No campo das expressões corporais e das tradições brasileiras, a oficina de capoeira com o contramestre Guayamum será realizada no dia 26 de abril, às 11h. A atividade contempla a musicalidade, a história e os fundamentos da capoeira, promovendo vivências práticas e abertas a iniciantes.

A programação conta ainda com o espetáculo teatral “Dois à Espera”, do Coletivo Viravoltear, que será apresentado no dia 27 de abril, às 16h. Inspirada no universo do absurdo, a montagem propõe reflexões poéticas sobre o tempo, o vazio e a esperança.
No dia 3 de maio, duas atrações valorizam a tradição oral e a cultura popular. Pela manhã, às 11h, a Guarda de Marujos Nossa Senhora do Rosário apresenta sua tradicional Marujada, manifestação centenária enraizada em comunidades de Itabira e região. À tarde, às 16h, o coletivo Festim realiza a intervenção poética “Assalto a Mão Letrada”, com leituras de textos autorais e de Carlos Drummond de Andrade, em um formato inusitado e performático.

 Memorial Vale Itinerante

“Oriará – Arte e Educação em Movimento” integra uma etapa da renovação do Memorial Vale, que, enquanto realiza a revitalização de sua sede, continua com sua programação através do projeto Memorial Vale Itinerante. “Estamos levando a essência do Memorial para outros espaços, garantindo que o público continue a ter acesso às atividades culturais gratuitas e relevantes, enquanto são realizadas as intervenções de requalificação, como a criação de novas estruturas de acessibilidade e áreas para atender a multipúblicos, com o objetivo de valorizar ainda mais o prédio que abrigou a antiga Secretaria de Estado da Fazenda. Com exposições como esta, estamos cumprindo nosso papel de difundir conhecimento e promover experiências transformadoras”, afirma Wagner Tameirão, gestor do Memorial Vale.

Além da mostra “Oriará”, o Memorial Vale Itinerante conta com outras iniciativas. Entre elas, o Quintal do Memorial que leva à Praça da Liberdade uma série de atividades culturais e educativas.

Memorial Minas Gerais Vale

Um dos espaços culturais que integram o Instituto Cultural Vale, o Memorial Vale faz parte do complexo cultural Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. De 2010, ano de sua inauguração, até julho de 2024, o espaço recebeu mais de 1,5 milhão de pessoas. São mais de 3 mil eventos realizados, 106 exposições, quase 9 mil escolas e grupos atendidos e cerca de 240 mil pessoas recebidas em visitas mediadas.

Atualmente, o edifício-sede que abriga o espaço passa por obras de renovação para adotar uma nova estratégia de ocupação museográfica e infraestrutural. Criada a muitas mãos, a nova expografia permanente tem a curadoria de Isa Ferraz e Marcelo Macca e fará uma mistura inédita de obras de arte, objetos históricos e peças audiovisuais criadas especialmente para o Museu, propondo um diálogo entre o ontem, o hoje e o amanhã no qual o visitante é o protagonista.

SERVIÇO
ORIARÁ: ARTE E EDUCAÇÃO EM MOVIMENTO
Obras de Edgar Kanaykõ Xakriabá, Aldeia Floresta Maxakali, Froiid, Marcel Dyogo, Dayane Tropicaos e Jorge dos Anjos, com curadoria e mediação do Programa Educativo do Memorial Minas Gerais Vale.
Abertura: 24 de abril, quinta-feira, às 9h
Local: Praça do Campestre
Visitação: de 24 de abril a 04 de maio. Terça à sexta das 8h às 16h. Sábados e domingos das 10h às 18h.
Mais informações: www.memorialvale.com.br / @memorialvale
Entrada gratuita

Divulgação Vale

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